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3 de maio de 2024 4:23 am

POLITICAGEM NA CULTURA

Prefeitura de Aragarças direciona recursos da Lei Paulo Gustavo para beneficiar empresa de Goiânia

Chamada Pública realizada pelo município para escolha de projetos culturais apresenta sinais evidentes de direcionamento ilegal de recursos federais para favorecer pequeno grupo de pessoas e deve ser anulado
Ricardo Galvão, prefeito de Aragarças-GO: administração vem sendo alvo de pesadas denúncias de irregularidades na aplicação de recursos da área de Educação e Cultura
Ricardo Galvão, prefeito de Aragarças: sucessão de denuncias de supostos desvios de finalidade no uso de verbas da educação e da cultura abalam a gestão do município

Da Redação

A Prefeitura de Aragarças (410 km de Goiânia) direcionou recursos da lei federal Paulo Gustavo para beneficiar uma empresa de Goiânia com uma verba de R$129.643,90 (Cento e Vinte e Nove Mil, Seiscentos e Quarenta em Três Reais e Noventa Centavos). O valor, oriundo da Lei Federal Paulo Gustavo de incentivo à Cultura, equivale 65,25% do valor total dos recursos destinados ao município pelo Ministério da Cultura, um repasse de R$198.600,00, aproximadamente, que deveria ser aplicado no atendimento de projetos de artistas e produtores culturais que residem na cidade.

Para garantir o direcionamento da maior parte dos recursos, o prefeito Ricardo Galvão optou por realizar uma chamada pública com dispensa de licitação por meio de um decreto. As regras da chamada pública também foram estabelecidas para dificultar a participação de produtores culturais do município.

Para complicar ainda mais a situação, a divulgação do tal edital foi extremamente restringida e poucos artistas e produtores culturais de Aragarças tiveram conhecimento da existência do certame. Para fechar a série de problemas que levantam fortes suspeitas de favorecimento em torno do processo, a distribuição dos recursos que foi totalmente desproporcional entre os segmentos a serem contemplados.

As suspeitas de desvios de finalidade dos recursos e favorecimentos indevidos com o dinheiro público da Lei Federal Paulo Gustavo em Aragarças começaram a circular na semana passada com informações e críticas pipocando em grupos de whatsapp e nos bastidores políticos. Como sempre, ninguém da prefeitura de Aragarças saiu à publico para explicar a situação ou assumiu a responsabilidade pela forma como o processo todo foi encaminhado.

Nesta semana, o caso foi mencionado como denúncia em uma rede social na internet e o nome da empresa Goiás Produções e Eventos Ltda, que tem sua sede em Goiânia e foi beneficiada com a maior parte dos recursos da Lei Paulo Gustavo em Aragarças, se tornou de conhecimento da população.

Publicação da Dispensa de Licitação com a lista dos beneficiários dos recursos da Lei Paulo Gustavo em Aragarças: Empresa de Goiânia ficou com 65% da verba destinada aos artista e produtores aragaçacenses

A reportagem do Pauta Extra conseguiu identificar os proprietários da empresa e conversou com um dos seus sócios, Lucas Martins de Lima. Ele encaminhou à redação do site uma Nota Pública em defesa da empresa (veja a Nota ao fim desta matéria).

A reportagem tentou falar diretamente com o prefeito Ricardo Galvão, mas não obteve êxito. Também não logrou sucesso nas tentativas de falar com o secretário de imprensa e com a secretária de Educação e Cultura de Aragarças para esclarecer detalhes do processo e sobre suas falhas legais.

Procurados pela reportagem, artistas aragarçacenses manifestaram seu descontentamento com os fatos, mas, não quiseram assumir qualquer pronunciamento público contra a gestão da Prefeitura de Aragarças temendo represálias. “Quem reclama, se queima, vira alvo de represálias e corre até risco de ser agredido fisicamente pelos puxa-sacos do prefeito”, disse um artista que pediu para ter seu nome preservado por segurança. Um produtor cultural local disse que esse tipo de situação é uma prática comum em Aragaças nessa administração.

A reportagem do Pauta Extra submeteu o edital publicado pela prefeitura de Aragarças à análise de especialistas em gestão pública e legislação sobre licitações, concorrências e chamadas públicas para aquisição de serviços, subvenções, convênios e patrocínios. Pelo menos duas falhas graves foram identificadas na escolha da modalidade dispensa de licitação feita pela gestão Ricardo Galvão.

A primeira irregularidade e a mais grave ocorreu já na interpretação da abrangência da Lei Paulo Gustavo e de sua finalidade. A legislação é clara quando estabelece que os beneficiários diretos dos recursos devam ser obrigatoriamente artistas, produtores e empresas ou instituições culturais com sede e ou residência no município.

Em Aragarças, no entanto, a equipe da gestão do prefeito Ricardo Galvão ignorou frontalmente este imperativo da lei federal, propositalmente ou não; confundiu produtores e artistas locais com empresas especializadas em prestação de serviços para o segmento artístico-cultural e permitiu que uma empresa da capital amealhasse quase que toda a verba destina à artistas e produtores culturais do município.

“A lei federal complementar n°195/2022 (Lei Paulo Gustavo), impede que empresas e ou instituições de qualquer natureza, assim como artistas e produtores culturais, pleiteiem recursos como proponentes de projetos a serem realizados fora de seus municípios em que tenham sua sede ou residência”, explicou o professor Luiz Henrique Lima, especialista em gestão pública.

A segunda irregularidade gritante do processo de execução dos recursos da Lei Paulo Gustavo em Aragarças foi a distribuição desproporcional e a falta de critérios objetivos para atender cada segmento cultural. Enquanto teve proponente contemplado com meros R$4 mil para realizar seu projeto, a prefeitura destinou mais de 65% da verba – mais de R$129 mil – para um projeto que é uma verdadeira salada de atividades.

A empresa goianiense se propôs a realizar um mix de ações culturais que vão da realização de um filme “de cunho nacional” (seja lá o que isso signifique) a promover premiações, concursos musicais, a criação de uma “Rua da Cultura”, e a realização de um show “de um artista renomado em nível nacional”.

No projeto, também se lê ainda que a empresa afirma que vai realizar “apoio a salas de cinema” para a população carente com sessões de cinema com pipoca, refrigerante e algodão doce gratuitos. Ou seja, um aglomerado de atividades que, claramente, visou amealhar o maior volume de recursos de uma só vez, tirando a oportunidade de artístas e produtores locais de apresentar projetos e também se beneficiar das atividades da cadeia cultural local financiada pela Lei Paulo Gustavo.

REPETINDO O PASSADO

Esta não é a primeira vez que a Prefeitura de Aragarças na atual gestão administra de forma equivocada e problemática os recursos federais destinados à Cultura. A Lei Aldir Blanc também destinou recursos para o município e o resultado foi decepcionante para a maioria dos artistas e produtores culturais locais.

“Com os recursos da Lei Aldir Blanc, acho que em 2020, se não me engano, foi a mesma coisa. Pouca gente ficou sabendo que tinha um edital, as regras foram confusas, os recursos foram mal distribuídos e o resultado é que o saldo foi bem restrito. De prático mesmo, sobrou os dois ou três livros que foram publicados. O resto virou nada, não deixou lembrança na população”, afirmou outro artista, também temeroso de ser identificado pelo prefeito delegado e sofrer perseguições.

A reportagem do Pauta Extra deixa em aberto o espaço para que o Prefeito de Aragarças e sua Secretária de Educação e Cultura se manifestem sobre o episódio.

NOTA DE ESCLARECIMENTO DA GOIÁS PRODUÇÕES

À População e aos Vereadores da Oposição de Aragarças, Goiás.

Prezados munícipes e membros da Câmara de Vereadores da cidade de Aragarças, gostaríamos de esclarecer alguns pontos referentes aos projetos apresentados pela empresa Goiás Produções e Eventos, os quais foram aprovados conforme a legislação vigente.

Reconhecemos e entendemos as inquietações e questionamentos levantados pela oposição a respeito da natureza e magnitude desses projetos. Primeiramente, é importante ressaltar que a empresa Goiás Produções e Eventos passou por um criterioso processo de avaliação conforme estabelecido nos editais aplicáveis. Todos os projetos foram submetidos a uma avaliação rigorosa, cumprindo todas as exigências estipuladas.

Referente ao projeto intitulado “Aragarças, Entre Diamantes e Horizontes”, reconhecemos a sua amplitude e investimento expressivo para a realização de um filme de cunho nacional,abrangendo elementos históricos e culturais da região. Este projeto envolve a contratação de especialistas, arqueólogos e recursos de alta tecnologia, como helicópteros e drones, visando a produção de imagens aéreas. Salientamos que o investimento elevado objetiva a execução do projeto com qualidade e profundidade, destacando os ricos aspectos históricos e geográficos de nossa cidade.

Da mesma forma, mencionamos o projeto destinado à cultura local, um final de semana cultural, proporcionando um espaço dedicado aos artistas residentes de Aragarças. Este evento contemplará premiações, concursos musicais, a criação de uma “Rua da Cultura” e a apresentação de um artista renomado em nível nacional. Este projeto busca valorizar e promover a expressão artística e cultural dos talentos locais, proporcionando uma plataforma de visibilidade e reconhecimento.

O projeto de apoio a salas de cinema para a população carente é uma iniciativa admirável e de grande impacto social. Ele visa proporcionar experiências cinematográficas a comunidades que, devido a limitações financeiras ou geográficas, não têm acesso regular a esses eventos culturais. Levar o cinema até essas famílias é mais do que simplesmente exibir filmes.

É uma oportunidade de entretenimento, educação e inclusão social. Ao oferecer sessões de cinema com pipoca, refrigerante e algodão doce gratuitos, o projeto não apenas permite que as pessoas desfrutem de um momento de lazer, mas também cria um ambiente acolhedor e convidativo.

Essa abordagem vai além de disponibilizar filmes; ela constrói conexões comunitárias, estimula o compartilhamento de experiências e promove a união entre os membros da comunidade. Além disso, ao fornecer acesso gratuito a esses entretenimentos, o projeto contribui para democratizar a cultura e estimular o interesse pela arte cinematográfica em todas as camadas da sociedade.

É importante destacar que a inclusão de elementos como pipoca, refrigerante e algodão doce não apenas torna a experiência mais agradável, mas também pode tornar o cinema mais atrativo e acessível para as famílias, especialmente para crianças e jovens, criando momentos memoráveis e estimulando a imaginação e a criatividade.

Em resumo, o projeto de apoio a salas de cinema para a população carente não só oferece entretenimento, mas também representa um meio de enriquecimento cultural, inclusão social e construção de laços comunitários. É uma iniciativa louvável que merece apoio e reconhecimento por seu impacto positivo nas vidas das pessoas e na promoção da cultura cinematográfica em áreas de maior vulnerabilidade social.

Ressaltamos que todos os recursos captados por meio da legislação pertinente podem ser devidamente comprovados mediante orçamentos e notas fiscais. As atividades realizadas pela Goiás Produções e Eventos são transparentes e estão em total conformidade com a legislação vigente.

Estamos à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais que se façam necessários. Nosso compromisso é com o desenvolvimento cultural, histórico e social de Aragarças, buscando sempre a transparência e a excelência na aplicação dos recursos destinados a projetos dessa  natureza.

Atenciosamente,

GOIÁS PRODUÇÕES E EVENTOS

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