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9 de maio de 2024 2:38 am

Escritora negra Conceição Evaristo recebe o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano

A escritora mineira Conceição Evaristo e a primeira mulher intelectual negra a receber o renomado Troféu Juca Pato, desde sua criação, em 1962, pela União Brasileira de Escritores
Escritora mineira de 76 anos, Conceição Evaristo, é a primeira mulher negra a vencer o prêmio, que será entregue em novembro, em Itabira, durante o Festival Literário Internacional

Da Redação

Com O Estado de Minas

A romancista e poeta Conceição Evaristo é a primeira mulher negra a conquistar o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano. O troféu, criado pela União Brasileira de Escritores (UBE), premia desde 1962 pensadores de relevância nacional. Desta vez, a escolhida foi a pensadora mineira, de 76 anos.

A escritora, que em dezembro passado lançou “Canção Para Ninar Menino Grande” (Pallas), bateu uma lista de finalistas que incluía Pedro Bandeira, Martinho da Vila e Marilene Felinto. As indicações de nomes são feitas por escritores, leitores, professores, profissionais do livro, entidades culturais e público em geral.

A premiação da UBE acontecerá em novembro, durante o Festival Literário Internacional de Itabira (MG). O “Intelectual do Ano” surgiu por iniciativa do escritor Marcos Rey e entrega um troféu réplica do personagem criado pelo jornalista Lélis Vieira, o Juca Pato.

As obras de Conceição Evaristo é uma das mais recomendadas em escolas de todo o país e ganhou ainda mais projeção depois de levar o Prêmio Jabuti com seu livro de contos “Olhos d’Água”.

A militância no movimento negro levou a escritora em 2016 a assinar uma carta aberta de protesto em que denunciava a Flip (Festa Literária de Paraty) por ser até então uma espécie de “arraiá da branquitude”. No ano seguinte, foi convidada pelo evento e fez nele uma participação estrondosa. Em 2019, foi escolhida a Personalidade Literária do Ano também pelo Prêmio Jabuti.

Rejeitada na ABL

A despeito de inegável qualidade de suas obras e impacto de sua produção cultural para o país, Conceição Evaristo foi rejeitada pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Em 2018, ela se candidatou a cadeira de nº 7 cujo patrono é o poeta Castro Alves. Mas, apesar do apoio popular, que gerou dois abaixo-assinados com milhares de assinaturas, os membros da ABL decidiram não eleger a escritora. Ela perdeu de forma acachapante para o cineasta Cacá Diegues.

Diante da humilhação imposta à pensadora mineira, a também escritora e imortal Nélida Piñon, que faleceu em 2022, numa entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura, culpou a falta de malícia política de Evaristo que teria, segundo ela, “cometido erros de campanha”. Segundo Piñon, a escritora negra não teria feito sua campanha “em tempo hábil” junto aos membros votantes da ABL, o que teria permitido que Diegues levasse 99% dos votos.

A desculpa só acentou o caráter sectário classista de viés racista da atual membresia da ABL, formada majoritariamente por pessoas de pele branca e oriúndas das camadas mais abastadas da sociedade e dos núcleos hegemônicos da cultura de massa no Brasil.

Quem é Conceição Evaristo

Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em  Belo Horizonte em 29 de novembro de 1946 e viveu sua infância na Favela do Vira Saia. Era filha de dona Joana, uma lavadeira e passadeira que estimulou a escritora a estudar e que também tinha pendores para a escrita. Com outros oito filhos para criar, a mãe permitiu que a menina, com sete anos de idade, fosse morar na casa de um casal de tios onde trabalhou como empregada doméstica.

A romancista estudou em escola pública e em 1971, terminou o curso de magistério ou Curso Normal. Mas só conseguiu emprego como professora, em 1973, após prestar concurso público, quando se mudou para o Rio de Janeiro.

Mais tarde, em 1987, a autora ingressou na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1990, publicou seus primeiros poemas na série Cadernos negros, do grupo Quilombhoje. Já em 1992, iniciou seu mestrado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O tema de sua dissertação foi a literatura negra.

No ano de 2003, a mestra publicou seu primeiro romance: Ponciá Vicêncio. Anos mais tarde, entre 2008 e 2011, cursou o doutorado na Universidade Federal Fluminense, onde aprofundou seu conhecimento sobre a literatura angolana e a afro-brasilidade. Em 2012, ministrou cursos sobre a “escrevivência de mulheres negras” e “inscrições de afro-brasilidade” no Middlebury College Summer Schools, nos Estados Unidos.

Conceição Evaristo recebeu os seguintes prêmios:

Prêmio Camélia da Liberdade (2007);
Prêmio Ori (2007);
Prêmio Jabuti (2015).

 Mas, apesar do apoio popular, que gerou dois abaixo-assinados com milhares de assinaturas, os membros da ABL decidiram não eleger a escritora para ocupar a cadeira número 7, que tem como patrono o escritor abolicionista Castro Alves (1847–1871).

 

 

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