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6 de maio de 2024 9:00 pm

Neofascismo e os ataques à democracia no Brasil

A Democracia Brasileira é uma conquista histórica da sociedade brasileira, pela qual todos, independente do partido, cor, religião, etnia e classe social devemos lutar

Paulo Wagner*

Impulsionada pelas redes sociais a ameaça de implantação de regimes autoritários e neofascistas cresceu, na última década, em vários países do mundo, a exemplo do Brasil. Entre as estratégias dos líderes e grupos neofascistas, também denominados de ultradireitistas, está a criação diária de fatos polêmicos para se manterem em evidência na mídia e nas redes sociais.

Outra estratégia é a divulgação de fake news e produções midiáticas com informações distorcidas da história e da realidade, a exemplo do negacionismo científico contra o uso de vacinas e a ideia infantil de ameaça comunista em sociedades com décadas de tradição democrática e liberal.

Estas estratégias são praticadas, principalmente, por milícias digitais e grupos que tentam dar um ar de legalidade às propostas e mensagens de ataque à democracia, partidos e instituições, como o Judiciário que possui o poder de criminalizar os que atentam contra o Estado de Direito e a Constituição Brasileira. No Brasil o marqueteiro Alan dos Santos que comandava uma milícia digital com conteúdo antidemocrático, teve a prisão decretada e atualmente é foragido da justiça.

O neofascismo é um movimento de caráter extremamente reacionário, com intenção clara de intimidar as liberdades democráticas. Uma das principais armas utilizadas pela onda neofascista é um discurso de ódio e racismo que prega o extermínio de opositores e a desconstrução de uma sociedade mais igualitária, pautada na justiça social, nos direitos humanos e no respeito à diversidade étnica, religiosa, cultural e de gênero.

O discurso ideológico dos neofascistas guarda enorme semelhança com regimes fascistas do passado, como o nazismo, que perseguiu e exterminou 6 milhões de judeus, ciganos e outras minorias nas câmeras de gás e nos campos de concentração.

Durante o governo nazista na Alemanha, pessoas com necessidades especiais foram cremadas nos fornos das fábricas, um fato que só foi descoberto por que os cabelos das vítimas saiam pelas chaminés e chegavam às ruas das cidades. Uma violência praticada em nome de Deus, da família e da pátria.

Hoje o ataque às urnas eletrônicas, praticado pelo atual presidente, que ironicamente se elegeu por este sistema de votação, tem produzido, por um lado, uma turba de seguidores ensandecidos que seguem como zumbis estas e outras ideias neofascistas. Estes seguidores são apelidados de gado, devida a manipulação e doutrinação que são submetidos via redes sociais.

Por outro lado, o ataque às urnas impetrado pelo presidente Bolsonaro, tem feito o Brasil se mobilizar em defesa da democracia e repudiar os que defendem o absurdo de querer instalar no Brasil um regime ditatorial, um Estado autoritário, como se o país fosse uma república de bananas.

A Carta pela Democracia lançada recentemente na Faculdade de Direito da USP alcançou, em poucos dias, mais de 1 milhão de assinaturas e o apoio de segmentos de direita, centro e esquerda que apoiam a democracia brasileira.

Mesmo com o movimento de defesa da democracia crescendo no País, não é possível ignorar a circulação de ideias neofascistas e teorias da conspiração, como as propaladas pelo astrólogo Olavo de Carvalho que acreditava que a terra é plana e fazia uma leitura totalmente distorcida da história e da sociedade.

Não é possível ignorar as estratégias de comunicação criadas pelo marketeiro neofascista Steve Bannon, ex-assessor e estrategista de Donald Trump que é investigado atualmente pelo FBI e foi condenado e multado recentemente pela justiça norte-americana, por desacato ao Congresso e envolvimento na invasão do Capitólio, maior ataque simbólico à democracia daquele país.

Vale lembrar que Bannon, é conselheiro e guru de neofascistas brasileiros, como o filho do atual presidente, Eduardo Bolsonaro, que está com medo de responder criminalmente nos Estados Unidos, por sua participação no episódio de invasão do Capitólio. Recentemente, Bannon foi pivô do escândalo da Cambridge Analitica, que usou dados de perfis no Facebook para influenciar nas eleições dos Estados Unidos.

Há evidências e investigações apontando que procedimentos semelhante, com disparos ilegais de mensagens, tenha sido utilizado nas últimas eleições para presidente do Brasil. Infelizmente, o uso ideológico de tecnologias de armazenamento e análises de dados que utilizam algoritmos para identificar o perfil de pessoas mais vulneráveis à absorção de conteúdos doutrinários neofascistas, é uma realidades nas rede sociais, com capacidade de manipular corações e mentes e espalhar desinformação e obscurantismo em pleno século XXI.

A presença cada vez maior no Brasil de ideias e práticas neofascistas como a tentativa do atual presidente de desqualificar o processo democrático, de demonizar e ameaçar opositores, de querer tornar impune toda violência policial praticada contra negros, pobres e outros cidadãos e cidadãs, mesmo que estes sejam pessoas sem nenhum envolvimento com a criminalidade, a liberação do uso de armas visando a formação de milícias armadas, são ações que possuem a intensão de banalizar e dar legitimidade à diversas formas de violência e criar um clima de medo, polarização e ameaça constante às liberdades democráticas no País.

Os reflexos destes discursos e práticas neofascistas tem feito vítimas e ocupado as manchetes policiais e jornalísticas. Entre diversos exemplos podemos citar, o lançamento de fogos de artifício em direção a sede do STF durante uma manifestação antidemocrática, as constantes ameaças de morte à autoridades e políticos, atentados de drones e bombas em comícios, o caso dos policiais que mataram um homem com transtorno mental utilizando uma câmara de gás, montada no porta-malas de uma viatura da PRF, o caso do guarda municipal Marcelo Arruda, militante do PT, que foi morto a tiros por um apoiador do presidente Bolsonaro, quando comemorava seu aniversário utilizando a temática petista, a invasão e vandalização de terreiros de religiões de matriz africana por evangélicos neopentecostais.

Todos este atos possuem elementos neofascistas de ataque à democracia, preconceito racial e religioso, extermínio e ameaça de opositores com o uso de violência, práticas que não cabem num país que defende o Estado de Direito e a convivência harmoniosa e pacífica entre seus cidadãos e cidadãs, entre seus partidos políticos e instituições.

Esperamos que a justiça prevaleça, que as tentativas de golpe, ameaças à Democracia Brasileira e o radicalismo neofascista sejam legalmente punidos, como vem acontecendo na maioria dos casos. Acredito que o povo brasileiro não quer ver novamente seus direitos, como o de votar para escolher seus representantes, uma imprensa livre, o respeito à Constituição Brasileira, o direito à vida e à dignidade ameaçados um por regime autoritário, ameaçados por fanáticos que pregam um estado distópico.

A Democracia Brasileira é uma conquista histórica da sociedade brasileira, pela qual todos, independente do partido, cor, religião, etnia e classe social devemos lutar. Autoritarismo nunca mais, Democracia sempre!

(*)Paulo Wagner é Escritor, Jornalista e Mestre em Estudos de Linguagem e Literatura

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