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17 de maio de 2024 8:52 am

O pessimismo da elite

Antonio P. Pacheco*

 O Brasil contemporâneo é o bagaço produzido pela voracidade predatória da elite burra, atrasada, colonizada e corrupta. Uma elite nascida nos privilégios de uma corte de lacaios da metrópele lisboeta no passado imperial e nova iorquina nos dias atuais. E que por ter sido abandonada nos trópicos, primeiro por Dom João VI e depois por Dom Pedro I, desenvolveu um profundo complexo de vira-latas. Complexo tão bem identificado por Nélson Rodrigues, que não era nenhum sociólogo, mas jornalista, como eu e como o articulista Onofre Ribeiro, a quem se dirige especialmente, este artigo, que vem a propósito de seu libelo “Estamos Fragmentados”, publicado em seu perfil no Facebook nesta quinta-feira,07 e replicado em alguns sites.

E é este complexo de inferioridade, de não aceitação da própria brasilidade e da própria mestiçagem plebeia, campesina, operária e classe média baixa que leva esta corte de fantasia europeia kitsch a manter o país permanentemente às bordas do abismo, do grande precipício. Até o pensamento crítico dessa elite é contaminado pelo pedantismo e o orgulho de “sinhozinhos”. Uma arrogância tacanha com a qual tentam se blindar dos respingos das nefastas consequências de suas atitudes mesquinhas, de seus lobbyes corrosivos e corruptores, de suas estratégias de dominação ideológica, discursiva, econômica e política sobre todas as instâncias do Poder Público nacional. 

Em seu artigo, o experiente Onofre Ribeiro discorre sobre a vilania das lideranças políticas ao longo da nossa conturbada e curta história e a estas atribuiu a responsabilidade pelo atual caos em que o Brasil chafurda. Acertadamente, seu diagnóstico situa o núcleo da responsabilidade nas elites. Mas, de repente, como que surpreendido pela imagem que vê no espelho, foge precipitado e tenta esconder a realidade atrás de um biombo: a ascensão de um partido de de base operária, popular, de centro-esquerda, ao poder.

Ora, culpar o PT, que governou apenas 13 dos 518 anos do país, pela podridão e fragilidade das nossas instituições políticas (Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público) e pela crise econômica pós-golpe paraguaio que destituiu uma presidenta legitimamente eleita, sem crime de responsabilidade ou administrativo, só evidencia o caráter da elite brasileira esquizo paranoide que vive a culpar os outros, no caso a esquerda, o PT, a Dilma, o Lula e os pobres em geral, pelas mazelas da corrupção que ela dissemina para se manter no poder, pelas misérias que produz para preservar seus privilégios e pela instabilidade econômica que retroalimenta para ampliar seus lucros de forma repetida e cíclica desde o primeiro império. 

O pessimismo manifesto pelo articulista, a propósito, é um outro sinal desse comportamento esquizo paranoide. Onofre não consegue enxergar esperança de um rompimento neste circulo vicioso porque o olha a partir de seu centro, por estar “capturado” e “integrado” a ele. A sua desesperança causa pena a quem está nas margens, a quem contempla das bordas do furacão o seu olho plácido e embaçado pelo torpor decorrente do excesso de conforto que a elite tanto preza. Tanto é assim que ele testemunha: “(…)as tais elites estão correndo grandes riscos e sabem que terão que abrir mão dos anéis pra não perder os dedos.” Ou seja, ele reconhece que há um risco grande de ser engolido pelo caos que criaram, mas, nega-se a admitir que é parte dessa elite e agente de causa da ameaça que atribui vir de fora do círculo em que se acha. Seria hilário se não fosse trágico. 

Ao contrário do articulista Onofre Ribeiro, vejo que o Brasil vive um de seus momentos mais propícios para um grande salto rumo ao verdadeiro desenvolvimento, para o rompimento definitivo dos grilhões colonialistas e superação do sentimento de “povo terceiro-mundista”. 

O grande risco que o povo brasileiro corre no momento, na verdade, é o de despertar a consciência para sua força popular e abrir os olhos para ver de uma vez por todas que a elite nacional é e sempre foi a única culpada pelos fracassos coletivos da nação, por ser de fato, a fonte da corrupção, da venalidade, do entreguismo antinacionalista e fascista e que deve ser afastada definitivamente do centro do poder governamental. 

O momento que o país atravessa pede sim, um projeto de Nação que seja construído de baixo para cima, pelas massas populares organizadas em comitês de rua, de ofícios, em associações, em grupos comunitários, em conselhos setoriais. Um projeto de país em que as elites empresariais, as corporações financeiras e industriais, os bancos, em fim, todos os setores produtivos, assim como o Judiciário, o Legislativo e o Executivo estejam subordinados de fato ao poder popular, à Constituição e aos interesses nacionais. Um projeto de país em que o povo seja a prioridade em qualquer circunstância. 

*Antonio P. Pacheco é jornalista

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